domingo, 17 de julho de 2011

O ex-atleta ensinando futebol? Considerações sobre o ensino do futebol através do craque

Nos dias atuais é cada vez maior o número de crianças praticando atividade física, seja na escola , clubes ou escolinhas de esporte. Existem várias justificativas para esse crescente aumento de pequenos praticantes: a possibilidade de ascensão social através do esporte, a exigência cada vez maior da sociedade para que todos pratiquem atividades físicas, entre outros. A partir dessa exigência  e da possibilidade de ascender na escala financeira da sociedade faz com que muito pais procurem escolinhas de futebol para seu filho, especialmente escolinhas ministradas por ex-atletas de futebol profissional: “os craques”.
A partir daí surge a seguinte pergunta: esses ex-atletas são os mais indicados para serem responsáveis pela iniciação esportiva dessas crianças?
O pai que procura esse tipo de escolinha acredita no empirismo, ou seja, na possibilidade da transmissão do conhecimento por pessoas que ficaram marcadas como grandes jogadores, “quem  jogou tão bem, pode ensinar melhor”.
Dessa idéia de ex-atletas ensinando futebol brotam questões que estão tomando grandes proporções na Educação Física à medida que a pedagogia do esporte avança demandando estudos cada vez mais detalhados acerca do ensino dos esportes, especialmente coletivos.
Como será que esses atletas ensinam futebol a seus alunos?
Será que eles acreditam na metodologia que aplicam?
Será que eles acreditam que futebol pode ser ensinado?
Ao conversar com o professor Alcides Scaglia ele falou sobre um estudo realizado por ele nas escolinhas de futebol ministradas por ex-atletas e encontrou respostas interessantes para essas perguntas.
Ele relatou que todos os ex-atletas entrevistados acreditavam que futebol não se ensina, é inato, alguns citando ser um “dom divino”, não podendo assim ser ensinado, sendo assim, como confiar a iniciação esportiva do seu filho a alguém que não acredita no trabalho que realiza?
A partir dessa conversa passei a acompanhar algumas escolinhas ministradas por ex-atletas e percebi algo comum entre elas: a forma tradicional de ensino.
Filas, repetição de gestos técnicos, cobrança exagerada para realização “perfeita” do gesto técnico, supressão do eixo criativo da criança. Esse profissionais estudam para realizar esse tipo de aula ou ele reproduz o que foi feito com ele enquanto atleta profissional de futebol?
Para Voser (1999) embora a perspectiva pedagógica destas escolas varie o que se vê na prática é que boa parte delas visam especializar a criança em uma única modalidade, projetando em muitos casos um futuro atleta. Sem contar que na maioria das vezes, deixa de respeitar as fases do desenvolvimento dos seus alunos, aplicando em seus treinos, métodos semelhantes aos treinamentos dos atletas adultos o que acaba comprometendo aspectos do crescimento, do desenvolvimento e da formação da criança.
O treino tradicional poda o direito de criar da criança, obrigando-a a realizar apenas o que é pedido pelo professor, onde é comum o grande nível de exigência, afinal são craques ministrando aulas e seus referenciais técnicos são muito altos.
Respeitar as fases de desenvolvimento da criança, proporcionar o aumento do seu acervo motor, propiciar o maior número de experiências do jogo gerando assim uma melhor tomada de decisão desses pequenos praticantes é obrigação do professor, e isso, ex-atletas normalmente não levam em consideração.
Um grande exemplo de que não precisa ser craque para ensinar futebol, para ser bom treinador, é José Mourinho, que apesar de ter jogado futebol, foi um jogador sem grande expressão, se tornando o grande treinador que é, após graduar-se em Educação Física e estudar os ensinamentos de vários professores, entre eles: Vítor Frade, o organizador da periodização tática.
Por isso pai, procure conhecer a formação acadêmica do profissional responsável pela iniciação do seu filho, ter sido atleta de qualidade não faz dele bom professor. Ser ex-atleta não exclui profissionais, desde que ser ex-atleta não seja a principal qualidade dele.
            Procure profissionais qualificados, atualizados, capazes de proporcionar a seus filhos uma iniciação prazerosa e eficiente para que no futuro ele venha a encarar a atividade física como algo realizador e agradável e não como um fardo, obrigado por seus pais.

                                                                                                                                 Gileno Siqueira

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